Revista do Correio

Entenda por que não é possível enxergar a nova cor “olo”

A percepção envolve a interação entre luz, olhos e cérebro

Há cores que o olho humano não consegue enxergar (Imagem: New Africa | Shutterstock)  -  (crédito: EdiCase)
Há cores que o olho humano não consegue enxergar (Imagem: New Africa | Shutterstock) - (crédito: EdiCase)

O olho humano é surpreendentemente complexo, sendo capaz de distinguir uma vasta gama de cores, embora existam muitas outras além de nosso alcance perceptivo, como destaca um artigo da Universidade da Califórnia, publicado na Revista Science.

A pesquisa revelou a criação de uma nova cor, chamada “olo”, que, em condições normais, não seria visível ao olho humano. Para alcançar esse resultado, os pesquisadores realizaram um experimento utilizando laser, capaz de alterar a percepção natural do olho humano. A tonalidade foi visualizada por cinco participantes que tiveram células específicas da retina estimuladas por feixes de laser.

Mas afinal, o que faz com que enxerguemos as cores? Isso é o que a Dra. Tatiana Corrêa de Souza, oftalmologista do H.Olhos, Hospital de Olhos da rede Vision One, explica a seguir:

Papel da luz e da retina no processo visual

A percepção das cores é um processo fascinante, que envolve a interação entre luz, olhos e cérebro. “Conseguimos perceber as cores devido à forma como nosso cérebro interpreta os sinais luminosos captados pelos nossos olhos. A luz branca, composta por todas as cores que o olho humano consegue enxergar, incide em um objeto que absorve algumas cores e reflete outras; sendo as refletidas as que nós vemos”, explica Dra. Tatiana Corrêa de Souza, oftalmologista do H.Olhos, Hospital de Olhos da rede Vision One.

Segundo a médica, diferentes partes do olho contribuem para a percepção das cores. “Quando as ondas luminosas incidem na retina, ativam as milhões de células fotorreceptoras (cones) concentradas na mácula, no centro do olho. Os cones reagem aos diferentes comprimentos de onda de luz e enviam ao cérebro sinais elétricos que são interpretados como uma ampla gama de cores”, acrescenta.

mão segurando um olho anatômico
Os cones presentes na retina desempenham papel crucial na visão de cores e detalhes (Imagem: SORASIT SRIKHAM-ON | Shutterstock)

Importância dos cones

A oftalmologista explica que os cones desempenham papel crucial na visão de cores e detalhes. Os três tipos de cones são:

  • Cone S: reage a comprimentos de onda curtos da luz e permite que enxerguemos cores na faixa azul do espectro visível;
  • Cone M: reage a comprimentos de onda médios da luz e permite que enxerguemos cores na faixa verde do espectro visível;
  • Cone L: reage a comprimentos de onda longos da luz e permite que enxerguemos cores na faixa do vermelho do espectro visível.

“Os cones necessitam de boa iluminação para serem ativados e trabalham em conjunto com os bastonetes, células fotossensíveis da retina responsáveis pela visão em condições de pouca luz, além da visão periférica e detecção de movimentos. Os bastonetes são altamente sensíveis à luz, permitindo a visão em condições de baixa luminosidade”, explica a Dra. Tatiana Corrêa de Souza.

Em condições de pouca luz, os bastonetes assumem um papel fundamental. “À noite, por exemplo, tornam-se os principais responsáveis pela nossa capacidade de enxergar; e sua alta sensibilidade à luz permite que continuem a funcionar quando os cones estão inativos. Além disso, pela impossibilidade de distinguir cores, nossa visão noturna é caracterizada pela percepção de tons de cinza, do preto ao branco”, esclarece a oftalmologista.

Percepção das cores e o experimento com a cor “olo”

Estudos científicos indicam que o olho humano é capaz de distinguir cerca de um milhão de cores, mas existem diversas outras que estão fora do espectro visível, ou seja, que não somos capazes de perceber. Uma curiosidade é que a percepção de uma cor pode variar de uma pessoa para a outra. Isso porque a forma como o cérebro interpreta pode ser influenciada pela iluminação e a experiência individual.

A nova cor “olo” não pode ser vista no ambiente natural, pois teve sua percepção induzida por um experimento que direcionou a luz apenas para um dos tipos de células (as de cone M), sem estimular as demais (as de cone L e S), algo que nunca ocorreria em condições normais, em que os três tipos de células são estimulados simultaneamente.

Os responsáveis pela pesquisa acreditam que futuramente ela possa apoiar estudos sobre o daltonismo, condição que afeta a capacidade de a pessoa distinguir cores, ajudando a entender melhor como as pessoas com essa condição percebem as tonalidades e como o cérebro processa a informação visual. 

Por Sig Eikmeier

PE
postado em 13/05/2025 18:10
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