
O governador Romeu Zema (Novo) foi a Brasília, na segunda-feira, avisar Jair Bolsonaro (PL) de que será candidato à Presidência da República em 2026. A conversa aconteceu a portas fechadas. O mineiro informou que disputará o cargo pelo próprio partido e ouviu de volta uma frase seca: “Não posso te impedir”.
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O que, para aliados de Zema, foi lido como sinal verde, no bastidor teve outro tom: Bolsonaro não ofereceu apoio, não se comprometeu com nada, e evitou qualquer gesto público. O governador foi testar terreno, sondar possibilidades, talvez até barganhar uma composição como vice, mas saiu do encontro com um vácuo.
Saiba Mais
O contexto não ajuda. Bolsonaro já sabia que seria alvo das alegações finais da Procuradoria-Geral da República, que o acusa de liderar uma organização criminosa para tentar reverter o resultado das eleições de 2022. A peça, entregue poucas horas depois da reunião, fala em tentativa de golpe de Estado. Segundo aliados mineiros do ex-presidente, a avaliação é que o processo é irreversível e que “vai dar trabalho”. O clima no entorno de Bolsonaro é de cautela máxima e isolamento progressivo.
No meio desse cenário, Zema tenta se projetar nacionalmente, mas ainda sem estrutura, base eleitoral ou carisma popular. Vai se lançar pelo Novo, um partido sem força no Congresso, sem palanques relevantes no país e fora das grandes disputas em 2022.
A leitura nos bastidores é dura: se Zema for o único candidato da direita bolsonarista, vai passar vergonha. Não tem experiência em debates, se comunica mal com o eleitorado médio e até hoje não enfrentou uma disputa real fora de Minas. Para entrar no jogo de 2026, vai precisar mais do que querer, vai ter que aguentar.
Enquanto isso, Bolsonaro tenta manter alguma influência mesmo inelegível. À Jovem Pan, disse que o “sistema tira da cédula quem não interessa”. Depois, recuou e gravou vídeo dizendo que segue inelegível, mas que Michelle “tem tudo para talvez vir candidata a algo mais importante”.
Na prática, a direita segue sem nome consolidado. Tarcísio repete, sem titubear, que está fora. Michelle é apenas uma hipótese, ventilada, mas não construída. Zema tentou furar a bolha, mas, por enquanto, não passou da borda. E Bolsonaro, além de inelegível, é hoje uma carta fora do baralho, cercado por processos, risco real de condenação e cada vez mais isolado até entre aliados.
Repercussão
Questionados pela coluna, aliados de Bolsonaro em Minas enxergaram o encontro com Zema sem nenhuma preocupação. A avaliação entre eles é que o ex-presidente não deve se vincular a nomes fora do seu eixo ideológico mais rígido, sob o risco de diluir a própria marca. Um eventual apoio a Zema, dizem, seria um erro estratégico, porque ele não representa o bolsonarismo raiz nem tem vínculo direto com o núcleo duro da direita. A lógica bolsonarista exige fidelidade, identidade e combate. Zema não entrega nenhum dos três, avaliam. Entre os nomes mais próximos, o cenário também é instável: Eduardo Bolsonaro enfrenta desgastes e está, segundo aliados, em “modo fujão”; Michelle aparece como possibilidade, mas é tratada como nome para o Senado, não para o Planalto. Nos bastidores, a leitura é dura: o bolsonarismo pode chegar a 2026 sem ninguém no jogo majoritário.
Silêncio
Aliados mineiros do ex-presidente Jair Bolsonaro relataram à coluna que, até agora, ele não os procurou para discutir os próximos passos após os últimos desdobramentos políticos. Segundo interlocutores, Bolsonaro está isolado, tomando decisões apenas com a família. A expectativa é que uma conversa com o grupo mineiro aconteça ainda nesta semana.
Projeção
No último domingo, a sacada do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, voltou a ser palco de projeções políticas, desta vez, com tom institucional. Durante evento com secretários estaduais, que celebravam o título de Patrimônio Natural da Humanidade concedido ao Vale do Peruaçu, no Norte de Minas, uma mensagem em vídeo do vice-governador Mateus Simões foi exibida na fachada do edifício histórico. Ausente fisicamente, ele fez questão de marcar presença simbólica no ato, que reforça a estratégia do governo de associar a imagem da gestão a conquistas ambientais e de projeção internacional. Nos bastidores, a movimentação foi lida como mais um aceno de Simões ao eleitorado mineiro de olho em 2026.
Pesquisa
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de importação de 50% contra os produtos brasileiros é vista como injustificada por 62,2% dos brasileiros, segundo pesquisa divulgada ontem pela AtlasIntel em parceria com a Bloomberg. Outros 36,8% apontam a postura do norte-americano como justificada, enquanto 1% não respondeu.
Lula
Após a crise diplomática com os Estados Unidos, os índices de avaliação do governo Lula registraram leve melhora, de acordo com a pesquisa AtlasIntel. A desaprovação caiu de 51,8% para 50,3%, enquanto a aprovação subiu de 47,3% para 49,9%. Os dados indicam que, ao contrário do esperado por setores da oposição, o embate com Washington pode ter reforçado a imagem de firmeza do presidente.