
A Câmara dos Deputados realizou na manhã desta terça-feira (16/7) uma comissão geral para discutir os desafios e oportunidades da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que será sediada em Belém (PA), em novembro.
O debate foi requerido pela liderança do PSOL na Casa, deputada Talíria Petrone (RJ), e reuniu, representantes do governo, especialistas do setor energético e movimentos socioambientais.
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A COP30 acontece em um momento simbólico e crucial: marca os dez anos do Acordo de Paris e os 33 anos da ECO-92. Ambas as conferências estabeleceram bases históricas para o enfrentamento das mudanças climáticas. A escolha da Amazônia como sede do evento também projeta o bioma como símbolo global da luta pela preservação ambiental.
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Realidade climática nas periferias
Para a deputada Talíria Petrone, a realização da COP no Brasil exige atenção redobrada à dimensão social da crise climática. “A COP30 acontece em um momento muito importante global, em que a gente precisa encarar os desafios e enfrentar um colapso climático em curso”, afirmou. “Secas, enchentes e ondas de calor extremo já são uma realidade no Brasil. As consequências são muito duras, em especial para quem vive em periferias”, completou a parlamentar.
A líder do PSOL destacou ainda a importância da participação popular na conferência e a valorização dos saberes de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, os mais atingidos pela degradação ambiental.
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Durante a comissão, Eduardo Brito Bastos, presidente da Câmara do Carbono do Ministério da Agricultura, reforçou a posição estratégica do Brasil na agenda internacional. “O que o mundo tem pedido ao Brasil nesses últimos anos é que ajude a combater a insegurança climática, alimentar e energética. E o Brasil tem pedido ao mundo recursos para fazer essa transição”, afirmou.
Ele defendeu que os países desenvolvidos cumpram as promessas de apoio financeiro e reconheçam as especificidades brasileiras no combate às emissões. “Mais de 80% das emissões globais vêm de combustíveis fósseis. No Brasil, cerca de 80% vêm do uso da terra — 50% do desmatamento e 5% da agricultura. As soluções que o Brasil precisa não são as mesmas de outros países”, pontuou.
Energia limpa e descentralizada
O potencial energético brasileiro também foi abordado por especialistas que participaram da audiência. Zilda Costa, vice-presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), afirmou que o país caminha para a democratização da energia limpa. “O Brasil será, em pouquíssimos anos, capaz de incentivar energia em todas as residências e terá sua própria microgeração de energia limpa e descarbonizada”, disse. Ela ressaltou o papel da ABGD, que há uma década investe recursos privados em inovação tecnológica e diversificação da matriz energética.
Fernando Perrone, do Instituto Nacional de Eficiência Energética, destacou que a matriz elétrica brasileira já é composta por 88% de fontes renováveis e defendeu o fortalecimento do armazenamento energético. “Precisamos retomar a discussão sobre reservação de energia por meio de usinas reversíveis e do armazenamento químico”, disse.
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Os participantes reforçaram que a COP30 representa uma chance histórica para o Brasil se consolidar como liderança ambiental global — mas alertaram que esse protagonismo precisa estar amparado por ações concretas de justiça climática e apoio internacional.
A comissão também destacou a necessidade de incluir a sociedade civil no centro das decisões, reconhecendo a Amazônia não apenas como tema de discursos, mas como território estratégico e urgente de ser preservado.