OPINIÃO

Quando idosos dirigem devagar

"Não importa a pressa ou o atraso: da próxima vez que um idoso estiver dirigindo um pouco mais devagar, cabe a empatia de não ser grosseiro ou se irritar"

Veremos cada vez mais idosos trabalhando, dirigindo, comprando, viajando e vivendo. E na regra: eles merecem respeito -  (crédito:  Freepik)
Veremos cada vez mais idosos trabalhando, dirigindo, comprando, viajando e vivendo. E na regra: eles merecem respeito - (crédito: Freepik)

Às vezes, a vida é um exercício de paciência. Em alguns momentos, você precisa de virtude para lidar com algo realmente importante; em outros, é preciso exercitar a paciência em situações mais triviais — como aconteceu comigo no fim da semana.

Um carro, trafegando abaixo do limite da via, seguia pela faixa da esquerda durante quase todo o trajeto da Epia Norte, desde a altura da Água Mineral até o fim do Setor de Oficinas. Uma fila de veículos se formava atrás, e todos pareciam tão impacientes quanto eu, forçados a ultrapassar pela direita. Toda essa irritação, no entanto, se dissipou no exato momento em que percebi que o motorista que segurava o fluxo era, na verdade, um idoso.

Não foi exatamente uma "raiva dissipada". Na verdade, eu me senti péssimo (e ainda me sinto). Uma das maiores lições que aprendi com minha mãe, desde muito pequeno, era clara: sempre respeite e trate bem os idosos. E, mesmo sem ter feito nada contra aquele motorista mais lento, fiquei com a sensação de que ele estava em uma situação de vulnerabilidade, que exigia cuidado, enquanto os demais demonstravam apenas impaciência.

Minha consciência tentou me acalentar, mas da pior forma possível: "Não fique mal, aposto que ele já até passou da idade de dirigir". O argumento, além de cruel, não é verdadeiro. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), não há idade máxima para dirigir — a partir dos 50 anos, apenas os exames para renovação da carteira se tornam mais frequentes.

Falar sobre idosos exige muito cuidado. O primeiro deles é evitar o etarismo (ou seja, discriminação com base na idade). Pessoas mais velhas podem — e devem — realizar qualquer atividade que desejarem. Tentar limitar isso por motivos externos é, no mínimo, cruel.

Desde aquele dia, venho reparando: há cada vez mais motoristas idosos nas ruas, e eles têm todo o direito de estar ali. Costumam ser mais cuidadosos e merecem o respeito de todos os demais condutores — independentemente de qualquer argumento.

O envelhecimento da população não é novidade. Lembro que ainda no ensino fundamental, há mais de duas décadas, os professores repetiam: "A população do Brasil está envelhecendo." Na prática, esse envelhecimento está acontecendo rápido. Segundo o Censo Demográfico de 2022, o Brasil tem quase 33 milhões de pessoas com 60 anos ou mais — quase 16% da população. Um aumento de 56% em relação a 2010. E, como já alertavam nossos professores do ensino médio: esse número vai continuar subindo.

Veremos cada vez mais idosos trabalhando, dirigindo, comprando, viajando e vivendo. E não apenas dentro de casa, jogando futebol de botão, como nos mostravam os filmes dos anos 1990. Serão atividades realizadas dentro das limitações da idade — limitações que, com sorte, também enfrentaremos um dia — e que merecem ser respeitadas.

Não importa a pressa ou o atraso: da próxima vez que um idoso estiver dirigindo um pouco mais devagar, cabe a empatia de não ser grosseiro ou se irritar. E mais: cabe também ser ativo no debate. Não apoiar argumentos etaristas ou preconceituosos, cobrar dos parlamentares em quem votamos propostas que defendam os direitos da população idosa. Será que já não passou da hora de existir um ministério dedicado exclusivamente aos milhões de idosos brasileiros?

 

 

postado em 15/07/2025 06:00
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