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INSS acumula erros, até quando acerta

Criticar as ações do INSS tornou-se quase que um hábito natural. Alguns porque sentem na pele a dificuldade para serem atendidos, outros porque estão cansados de assistir ano após ano uma sequência de explicações que não resultam em nada

 05/05/2025. Ed Alves CB/DA Press. Politica/Brasil - Predio do INSS.  Sede / agencia no Setor de Autaquia Sul. -  (crédito:   Ed Alves CB/DA Press)
05/05/2025. Ed Alves CB/DA Press. Politica/Brasil - Predio do INSS. Sede / agencia no Setor de Autaquia Sul. - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)

» JOSÉ NATAL, Jornalista

Em qualquer campanha política que se faça no Brasil, a qualquer sinal de crise ou de queda do candidato nas pesquisas, a culpa de imediato cai nas costas da comunicação. Ou a assessoria de imprensa está ruim, ou a equipe de marketing não está sabendo vender o produto. Ou, quase sempre, as duas entidades pagam o pato. Nos bastidores dos governos também é assim. Se o governante acerta é porque tem méritos. Se ele erra, a culpa é da comunicação, talvez por falta de traquejo político, vaidade ou as duas coisas. Isso é cultural, acontece há anos e vai continuar acontecendo. 

Na nossa conjuntura política atual, há quem arrisque contrariar um pouco essa tradição. Aqui, no caso, o pano de fundo é uma entidade chamada Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Seria injusto creditar a comunicação, todas as falhas e complicações provocadas pelo instituto ao longo do tempo. Esse episódio recente, da trágica tramoia de empresas que surrupiaram dinheiro indevido dos aposentados, é apenas a cereja do bolo de uma história que não se conta para criança dormir.

Além do desgaste político e abalo financeiro nas contas do governo, o instituto ainda acumula críticas pela demora nas providências adotadas, burocracia e informações truncadas sobre o andamento das medidas administrativas. E até que isso se resolva, e os prejudicados sejam ressarcidos, problemas antigos continuam e distantes do que de fato o segurado espera. Ou seja, demora no atendimento às questões da comunidade, filas intermináveis e o tempo infinito que os processos levam para uma resposta identificam o que foi e, é ainda, sinaliza que será por muito tempo a questionada forma de agir do INSS. 

Criado pelo Decreto nº 99.350, em 27 de junho de 1990, pelo Ministério da Previdência Social, o instituto, embora com boas intenções, tantos anos após o nascimento, parece ter adquirido, ao longo do tempo, mais problemas do que soluções. Nasceu de parto normal durante o governo do presidente José Sarney. Bom lembrar que o atual instituto substituiu o antigo Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), criado em novembro de 1966, pelo Decreto-lei nº 72. Seria injusto, e até desonesto, culpar e despejar todas as críticas ao atual sistema, que nunca conseguiu se livrar da política obsoleta e pouca equilibrada de gestões passadas. 

Nenhum governo, até hoje, se dedicou como deveria às ações passadas do instituto, que sempre foi alvo de críticas de todos os segmentos da sociedade. Hoje, infelizmente, o que se vê é um INSS abarrotado de processos de toda ordem, pedidos de aposentadorias, auxílio doença, auxílio desemprego e outros auxílios, despejados num balaio de cobranças, que muitas vezes, leva o segurado a descrença, ao desânimo e, não raro, as desistência de conseguir o que procura. Aqui, um paradoxo estranho e curioso. A modernidade chegou, a tecnologia avançou e as cabeças pensantes da política social dos governos passados e atual, até hoje, não conseguiram solucionar de vez problemas antigos, com cara de modernos. Sites avançados, robusto de opções, aplicativos de fácil acesso e outras soluções foram implantados, dando ao sistema um toque de classe e sofisticação quase de primeiro mundo. A parcela da comunidade que mais precisa do INSS é formada por pessoas carentes de conhecimentos digitais, e em muitos casos, sem meios para acompanhar a lógica e necessária eficiência de operação.

Criticar as ações do INSS tornou-se quase que um hábito natural. Alguns porque sentem na pele a dificuldade para serem atendidos, outros porque estão cansados de assistir ano após ano uma sequência de explicações que não resultam em nada. O que há, ou pelo menos é o que parece, é um descompasso entre a demanda e a real capacidade de melhor atender o usuário. Para ilustrar esse cenário, nada parecido com atendimento cinco estrelas, o instituto praticamente acabou com o habitual contato físico com o cidadão. Ou seja, para que alguém  seja atendido por um servidor do órgão tem que agendar esse encontro em um posto de atendimento. Para que isso aconteça, o interessado liga para apenas um ramal (135), aguarda 40 minutos para ser atendido e recebe a informação de que, possivelmente, será recebido em algum posto no prazo de 25 a 30 dias. Em Brasília, capital da República, o INSS atende em apenas cinco postos, e quase sempre, dois estão com as portas fechadas.

Todos sabemos que a demanda é imensa e sempre vai aumentar. Mas alguém, algum dia, vai ter que estancar essa avalanche de cobranças que o contribuinte faz, com justiça, e sofre uma impiedosa punição. Os tempos mudaram, mas para o INSS, parece que não.

 

postado em 14/07/2025 03:56
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