VISÃO DO CORREIO

Segurança digital e o escândalo do INSS

Se em Brasília há fragilidade na segurança digital, a pergunta se volta a como os dados são protegidos nos ambientes certamente mais frágeis de estados e municípios brasileiros

Pessoa de costas usando um notebook. -  (crédito: StartupStockPhotos/Pixabay )
Pessoa de costas usando um notebook. - (crédito: StartupStockPhotos/Pixabay )

 O escândalo que envolve entidades que têm termo de cooperação técnica com o INSS marca o noticiário brasileiro nos últimos dias a partir de uma fraude que alcança desvios estimados em R$ 6 bilhões de aposentadorias e pensões, sem consentimento das vítimas. O caso  também chama a atenção para um ponto pouco discutido nos espaços públicos: a segurança digital. 

Sabe-se que parte das fraudes cometidas passou pelo acesso de golpistas a dados sensíveis de contribuintes. Em alguns casos, a trama se dava a partir do desconhecimento do beneficiário, que fornecia sua assinatura por ingenuidade. Mas, em outros, o vazamento de informações foi peça-chave do golpe. 

Auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em junho do ano passado mostrou que nem todos os descontos do INSS foram aprovados pelos titulares dos benefícios. Na verdade, bastava o fornecimento de uma lista mensal de segurados, junto à Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), sem a necessária verificação documental.

A Dataprev está vinculada, hoje, ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Em abril de 2024, o Ministério da Previdência Social reconheceu que houve vazamento de dados dos contribuintes em caso que ganhou o nome de Vazaprev. As cerca de 400 senhas de acesso ao sistema que caíram nas mãos dos criminosos permitiram a invasão de aproximadamente 60 dispositivos não reconhecidos à rede da Dataprev. A falha desviou cerca de R$ 1,4 bilhão dos aposentados e pensionistas entre janeiro de 2022 a agosto de 2023, segundo o TCU.

Esse e outros casos, como o monitoramento irregular feito pela chamada Abin paralela até 2022, escancaram a necessidade de um pente-fino nos órgãos públicos de gestão federal. Se em Brasília há fragilidade na segurança digital, a pergunta se volta a como os dados são protegidos nos ambientes certamente mais frágeis de estados e municípios brasileiros. 

Em um momento no qual prefeituras, estados e o próprio governo federal defendem a digitalização dos seus serviços, com a intenção de trazer comodidade ao cidadão ao diminuir a burocracia pública, a segurança dos dados da população precisa ser prioridade no desenvolvimento de qualquer interface. 

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Quem perde, no fim das contas, é sempre o cidadão, sobretudo o mais fragilizado, caso de aposentados e pensionistas. Vale lembrar que a fraude com os recursos pagos pelo INSS durava anos. Se a educação digital plena é um sonho distante, diante de um país ainda com cerca de 11 milhões de analfabetos, é preciso garantir a segurança digital dos sistemas públicos. 

Quando restringiu o acesso ao CPF de candidatos a cargos públicos na última eleição, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) justificou a falta de transparência com base na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Parte da retomada da confiança do brasileiro em suas instituições representativas passa por uma maior clareza sobre quem elas, de fato, devem representar. Os mais fragilizados e dependentes do Estado precisam ser prioridade na ordem do dia.

 

postado em 14/05/2025 06:00 / atualizado em 14/05/2025 06:30
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