
Entre 2012 e 2013, este que vos escreve fez um vestibular para a Escola Superior de Ciências da Saúde, mais conhecida como Escs. Na época, o sonho era engrenar uma graduação em medicina, mas isso não vem ao caso agora. O que importa é o tema da redação daquela prova. Era questionado como ajudar a população na participação política. Tal como uma epifania, a resposta me surgiu: as redes sociais. O ambiente virtual fervilhava naqueles tempos, e eu encarava a ascensão daquele mundo on-line como uma grande porta para uma maior e mais efetiva participação democrática. Mais de 10 anos depois, contudo, o Brasil acompanhou o desfile da nova era das redes sociais durante a sessão de ontem da CPI das Bets, e, agora, percebo como aquele adolescente estava errado sobre a esperança democrática das redes sociais.
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A Comissão Parlamentar de Inquérito das Bets tem um objetivo: investigar o que impulsionou o boom dos sites de apostas on-line (mais conhecidos como "Tigrinhos") no país e quem está ganhando com isso — em especial, se esse ganho é legal. A sessão de ontem teve a participação de uma das maiores influenciadoras do país, Virgínia Fonseca.
Com milhões de seguidores nas redes sociais, a mulher é uma das que divulgaram sites de apostas nas redes sociais. A propaganda é, então, levada a incontáveis brasileiros. As plataformas se tornam quase onipresentes.
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Fugindo de qualquer julgamento sobre a moralidade desse tipo de divulgação (até porque, para ser sincero, este que vos escreve provavelmente não negaria um pagamento milionário pela propaganda deste tipo de conteúdo), chamou-me a atenção como a política caminha para a espetacularização no meio das redes sociais. Foi um show feito para cortes no feed.
Era senador tentando tirar selfie com Virginia, eram perguntas sem nexo, uma polarização entre defendê-la e se aproveitar do engajamento nas redes, ou fazer críticas vazias e sem contexto. Não é a primeira vez que uma celebridade tem de marcar ponto em uma CPI, e não é a primeira vez que o local se transforma em show de quem grita mais. Mas, agora, algo mudou.
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Foi possível observar a tentativa de reprodução de um modus operandi de todo o caos que guia as redes sociais, ou seja, ganha mais quem mais aparece. Esse contexto, contudo, não cabe em uma Casa Legislativa, e é lamentável perceber que esse é o caminho que alguns parlamentares escolhem para espetacularizar os trabalhos no local.
Fico me perguntando onde o mundo vai parar quando todos parecem se preocupar mais em como um corte de 2 minutos vai ser repercutido. É como se cada ação, cada vivência se resumisse a esses pequenos vídeos. De certa forma, os parlamentares são mais uma peça nesse novo mundo de orquestra das redes sociais. Mas eles deveriam ser resistência.
A participação política nas redes sociais se transformou em poucos anos. As "vozes" democráticas que deveriam se multiplicar, viraram gritos sem sentido. Tudo se resume a cortes, em que o que importa é o engajamento, e não a mensagem.