
A escola não é só um espaço de transferência de saberes, mas de formação das pessoas, desenvolvimento de habilidades, aprimoramento do pensamento crítico e de formação de valores sociais sustentados na cultura de paz. Todos esses requisitos têm sido jogados no lixo. Entre 2013 e 2023, o número de vítimas da violência no ambiente escolar aumentou 254%, segundo levantamento da Revista Pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Dados do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) indicam, em 2013, o registro de 3,7 mil vítimas de violência nas escolas, número que subiu para 13,1 mil em 2023. A triste escalada atinge estudantes, professores e membros da comunidade escolar. O estudo revela que 2,2 mil casos foram de violência autoprovocada — automutilação, autopunição, planejar, tentar e praticar suicídio — durante o período pesquisado.
No Distrito Federal, a realidade é dramática. Em pouco mais de um mês, houve ao menos dois esfaqueamentos, duas brigas com alunos feridos e quatro denúncias contra estudantes das instituições da rede pública de ensino. Na semana passada, um adolescente de uma escola particular de Águas Claras foi parar na UTI depois de levar um soco na barriga deferido por um colega de sala. O jovem sofreu uma lesão no rim e segue internado.
Os conflitos no DF não são restritos aos estudantes. Professores também estão envolvidos em atos de violência contra alunos, ao mesmo tempo em que também são vítimas, como apurou a reportagem Após ataques no DF, escolas e famílias se unem contra violência no ambiente escolar, publicada neste Correio Braziliense em 9 de maio. Em Ceilândia, uma mãe flagrou uma professora ameaçar uma aluna de 6 anos com uma garrafa de água. O ataque não se consumou porque a mãe gritou por socorro em defesa da filha, que tem transtorno do espectro autista.
Em fevereiro, um professor com deficiência visual foi espancado por alunos do ensino médio na parada de ônibus, após aula. O motivo foi a exigência do docente para que os estudantes guardassem os celulares durante a aula. A Secretaria de Educação DF garante que todas as ocorrências estão sendo acompanhadas de perto e a pasta tem se dedicado a ações de prevenção contra a violência nas escolas.
Para a pedagoga e professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Catarina de Almeida Santos, especialista em gestão da escola pública, a solução da explosão de casos de violência nas escolas depende de diferentes atores, como o corpo técnico-administrativo, a gestão, os docentes, os estudantes e seus familiares e a comunidade em que a instituição de ensino está inserida. "Se cada ator desenvolver bem o seu papel, certamente teremos menos problemas, mas, no fundo, a escola está sendo cada vez mais demandada por tarefas que não têm condições de resolver — algumas, nem são sua responsabilidade", afirma a professora.
Para a secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, é preciso unir forças entre as escolas e as famílias para enfrentar e superar os episódios de violência, dentro e fora da escola. Ela não deixa de ter razão que a redução, ou até mesmo a eliminação da violência, não é responsabilidade única do poder público. Passa pela educação de casa, lembrando o velho adágio: "Costume de casa vai à praça".
Mas, além disso, as unidades escolares precisam de investimentos que garantam-lhes condições adequadas à formação dos estudantes em todas as faixas de idade, especialmente as situadas nas periferias, que abrigam crianças e jovens de famílias com severas limitações socioeconômicas. Nessas regiões há um maior lastro de agressões e atos de violência dentro e fora das unidades de ensino. Isso indica que elas também demandam uma atenção especial do Estado no campo da saúde, da segurança pública, da infraestrutura e de tantos outros serviços que elevem a qualidade de vida da população.