Opinião

Visão do Correio: O vírus VSR e o alerta dos médicos

O que chama a atenção, além do crescimento exponencial de casos e internações, é a desorganização estrutural das unidades básicas de saúde (UBS)

"Principal causa de internação em crianças no mundo, o VSR é responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% das pneumonias em crianças menores de 2 anos" - (crédito: Reprodução/Freepik)

É triste assistir ao que está ocorrendo em hospitais, unidades de pronto-atendimento e postos de saúde por todo o país em decorrência do aumento de casos de infecção pelo vírus sincicial respiratório (VSR), causador da bronquiolite, e o vírus da influenza A, levando bebês e crianças a óbito. Até 15 de março, o Brasil havia registrado 21.498 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com 1.659 mortes, segundo o boletim Infogripe, divulgado pela Fiocruz.

Principal causa de internação em crianças no mundo, o VSR é responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% das pneumonias em crianças menores de 2 anos, de acordo com os dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), do Ministério da Saúde.

Se pensarmos que pelo menos 16 das 27 unidades federativas — ou seja, mais da metade do Brasil — estão vivenciando o aumento das hospitalizações, com registros de superlotação, muitos dos quais sem nenhuma vaga disponível nas unidades neonatais de terapia intensiva (UTIs), o alerta foi ligado.

A incidência do VSR, além do aumento de casos de rinovírus (conhecido como o vírus do resfriado comum), é maior nos estados da Região Sudeste, além do Distrito Federal e de Goiás. Em março deste ano, o boletim Infogripe avisava sobre a alta de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave no Centro-Oeste. Em alguns estados do Norte e do Nordeste, a faixa etária se amplia até adolescentes de 14 anos.

O que chama a atenção, além do crescimento exponencial de casos e internações, é a desorganização estrutural das unidades básicas de saúde (UBS), assim como da rede pública hospitalar como um todo. É visível o despreparo para prestar um atendimento digno a essas famílias e suas crianças. Os postos ficam superlotados, com adultos e crianças passando mal, sem máscara, o atendimento é precário, são poucos médicos nos plantões e o resultado são as longas filas e pessoas voltando para casa sem receber assistência. Em alguns casos, se o atendimento é tardio, o que se vê é a criança entrar no bloco médico em estado grave e não mais sair.

O cenário parece "figurinha repetida". Ainda que as autoridades e a população saibam que o outono e o inverno são exatamente as estações do ano propícias para esses patógenos, a impressão é de total estagnação: vamos esperar o mal chegar, daí pensamos em como agir.

Fato é que o impacto financeiro decorrente de custos com as doenças respiratórias é relevante tanto dentro do orçamento público quanto na rede privada. Um estudo divulgado pela Planisa, empresa que atua na área de gestão de saúde, mostra que somente a pneumonia e a influenza, doenças registradas nos meses janeiro e fevereiro deste ano, foram responsáveis por 81.249 internações e 10.106 mortes no Brasil.

O impacto financeiro foi de cerca de R$ 381 milhões nesse período, com base no valor mediano de pouco mais de R$ 4,5 mil por internação, de um total de 6.399 casos analisados no ano passado. Isso corresponde a mais de R$ 6 milhões por dia gastos apenas com o tratamento hospitalar de pacientes diagnosticados com doenças respiratórias. O desafio gigante agora é reforçar o atendimento aos pacientes, com a ampliação de leitos hospitalares e equipes médicas numerosas e capacitadas.

 


postado em 12/05/2025 06:00 / atualizado em 13/05/2025 07:25
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