
Quem passou dos 40 anos há de se lembrar dos cursos por correspondência do Instituto Universal Brasileiro. De revistas em quadrinho até os semanários de notícia, os anúncios eram onipresentes. Detetive particular, secretariado executivo, desenho de joias, eletrônica, chaveiro… As opções eram muitas. Você recortava o cupom da página, fazia um X no ofício escolhido e mandava pelos correios, pagando com reembolso postal.
Viciada em A gata e o rato, um dos meus sonhos de criança era encomendar o curso de detetive — vinha até diploma para pendurar na parede — e sair por aí elucidando crimes ao lado do Bruce Willis, que vivia o David Addison na série. Um sonho, porém, proibitivo para minha exígua mesada.
Aderi a o EAD — ensino a distância — décadas depois, quando ouvi falar, pela primeira vez, numa palestra do TED, sobre os MOOCs. Trata-se dos Massive Open Online Courses, cursos livres oferecidos por universidades renomadas sobre assuntos tão diversos quanto psicologia analítica, antropologia forense e história dos banquetes nos tempos de Henrique VIII (esse último eu fiz e recomendo).
A não ser que o usuário faça questão do certificado, não é preciso pagar. Na palestra que assisti, o apresentador dizia que a ideia era levar conhecimento de qualidade para qualquer canto do mundo, bastando um celular e acesso à internet. Plataformas como Coursera, Future Learn e EdX têm numerosos cursos, em todas as áreas, incluindo de idiomas, todos oferecidos por instituições de excelência, como USP, Harvard, Oxford.
Geralmente, são cursos de seis semanas, cada uma delas com aulas em vídeo, leituras recomendadas, testes e sala de discussão. Há a opção de assistir com legendas e de ler os textos em português. A qualidade é extraordinária, uma prova de que não há limites para o aprendizado.
Pois ultimamente tenho procurado uma pós-graduação em história medieval a distância. Desde que o Google descobriu isso, não param de pipocar anúncios de instituições que oferecem especializações em qualquer assunto que se possa imaginar. Pena que, na verdade, esses cursos — devidamente autorizados pelo Ministério da Educação — não passam de caça-níqueis.
Com preços atrativos, que dificilmente ultrapassam R$ 300 (o total, não a mensalidade), essas "pós" podem ser completadas em quatro meses, dispensando o trabalho de conclusão de curso (TCC). Há ofertas do tipo leve uma e faça três especializações ao mesmo tempo. O material não passa de apostilas (que imagino de qualidade duvidosa) para baixar em PDF.
Evidentemente, "se especializa" dessa forma quem só quer o diploma, seja para fazer bonito no currículo ou ganhar pontos extras em concursos públicos. É a mercantilização da educação elevada ao infinito. (Quanto a fazer bonito no currículo, um diploma desses, na verdade, me causaria vergonha).
O ensino pode ser péssimo ou excelente, seja presencialmente ou a distância. O problema não é o formato, mas a picaretagem da "formação de especialistas" que, provavelmente, concluem o curso sabendo menos do que no início.
O EAD pode, de fato, democratizar o acesso ao ensino. Ou, nesses casos, avacalhar.