
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que a procuradora-geral Pam Bondi deve divulgar "o que ela considerar crível" sobre o bilionário e agressor sexual Jeffrey Epstein — encontrado morto na prisão em 2019. Trump enfrenta uma rara reação negativa de seus apoiadores após tentar encerrar o assunto.
Bondi tem sido duramente criticada pela base política de Trump, depois que seu departamento afirmou recentemente que não havia evidências de que Epstein mantinha uma "lista de clientes" que teriam participado de atividades sexuais com mulheres e menores aliciadas por ele.
Isso contradisse declarações anteriores da própria Bondi e de outros aliados do presidente, que já haviam defendido a divulgação de mais informações sobre o caso de Epstein.
Na terça-feira (15/07), Trump também declarou não entender "qual é o interesse ou a fascinação" pelo assunto. Ele já havia defendido Bondi em outros momentos.
"Ela está lidando com isso muito bem, a decisão é dela", disse aos repórteres. "O que ela considerar crível, ela deve divulgar."

Questionado por um jornalista se a procuradora-geral havia dito a Trump se seu nome aparecia em algum dos registros, ele respondeu: "Não, não."
Logo em seguida, o presidente questionou o interesse contínuo pelo caso Epstein, chamando-o de "sórdido, mas entediante".
"Apenas pessoas realmente muito ruins, e as próprias fake news, querem que algo assim continue sendo falado", afirmou.
Durante sua campanha eleitoral no ano passado, Trump prometeu divulgar arquivos relacionados ao bilionário. O tema voltou à tona no início deste ano, em meio a uma desavença pública entre o presidente americano e seu ex-conselheiro Elon Musk.
Alguns aliados-chave de Trump, incluindo o presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson, continuam pedindo por transparência.
Os comentários de Trump em defesa de Bondi foram uma resposta a um repórter que apontou que a própria nora do presidente, Lara Trump, tinha pedido publicamente por transparência.
Quem foi Jeffrey Epstein?
Epstein foi encontrado morto em sua cela em uma prisão em Nova York, em 2019, enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual. Sua morte aconteceu mais de uma década depois de ele ter sido condenado por solicitação de prostituição a uma menor de idade, crime pelo qual foi registrado como agressor sexual.
De acordo com um memorando de duas páginas divulgado pelo Departamento de Justiça e o FBI no início de julho, os investigadores não encontraram nenhuma "lista de clientes incriminadora" ou "evidência crível" de que Epstein tenha chantageado figuras proeminentes.
Os investigadores também divulgaram imagens que, segundo eles, corroboram a conclusão dos médicos legistas de que Epstein cometeu suicídio enquanto estava preso no Metropolitan Correctional Center, em Nova York.
Algumas teorias da conspiração insinuam, há anos, que Epstein teria sido assassinado para evitar que implicasse autoridades do governo, celebridades e magnatas de envolvimento em seus crimes.
O diretor do FBI, Kash Patel, e seu vice, Dan Bongino, já haviam questionado a versão oficial sobre a morte de Epstein, embora ambos tenham reconhecido, desde que foram nomeados para integrar o governo Trump, que Epstein tirou a própria vida.
O memorando acrescenta que os investigadores "não encontraram evidências que justificassem a abertura de uma investigação contra terceiros não indiciados".
Mesmo assim, muitos simpatizantes de Trump continuam a especular que detalhes sobre os crimes do influente pedófilo condenado foram ocultados para proteger figuras poderosas ou agências de inteligência.

Nos últimos dias, Trump tem mostrado frustração com a fixação no caso Epstein, e pediu que as pessoas "mudassem de página". Mas alguns de seus aliados republicados não querem deixar o assunto de lado.
Parte da pressão sobre Bondi vem de declarações que ela fez em fevereiro, quando, ao ser questionada por um jornalista da Fox News sobre a suposta lista de clientes de Epstein, respondeu:
"Está na minha mesa neste momento para ser analisada."
Na semana passada, o porta-voz de Bondi disse que ela, na verdade, se referia ao conjunto de arquivos do caso.
Pressão de aliados
Em uma entrevista concedida na terça-feira ao comentarista conservador Benny Johnson, o presidente da Câmara, Mike Johnson, afirmou confiar em Trump e em sua equipe, e que a Casa Branca tem acesso a informações que ele desconhece.
Mas, segundo ele, Bondi "precisa vir a público e explicar isso para todo mundo".
"Nós devemos tornar tudo público e deixar que as pessoas decidam", disse.
Em outra entrevista com Benny Johnson, a deputada da Geórgia Marjorie Taylor Greene afirmou: "Sou totalmente a favor de transparência nesse assunto."
Ela elogiou o trabalho de Bondi como procuradora-geral, mas disse que líderes e autoridades eleitas deveriam cumprir as promessas feitas aos eleitores.
Outra republicana conservadora, Lauren Boebert, do Colorado, disse que se mais documentos do caso Epstein não forem divulgados, um procurador especial deveria ser nomeado para investigar os crimes do agressor sexual.
O senador John Kennedy, de Louisiana, afirmou que os eleitores esperam mais responsabilização.
"Eu acho que é perfeitamente compreensível que os americanos queiram saber para quem Epstein traficava aquelas mulheres e por que essas pessoas não foram processadas", disse para a NBC News.
Já republicanos influentes — incluindo o senador John Thune e a deputada Jim Jordan — preferiram deixar o assunto para Trump.

Em uma coletiva de imprensa sobre o combate ao fentanil, na terça-feira, Pam Bondi evitou responder sobre a polêmica.
"Nada sobre Epstein", disse aos repórteres. "Não vou falar sobre Epstein."
A procuradora-geral afirmou que o memorando divulgado na semana passada pelo Departamento de Justiça, em conjunto com o FBI — que recusou a liberar os arquivos sobre o caso e confirmou que Epstein se matou —, "fala por si só".
Segundo o documento, as conclusão do governo foram feitas depois de analisar mais de 300 gigabytes de dados.
Na terça-feira, parlamentares democratas tentaram, sem sucesso, forçar uma votação na Câmara para liberar os arquivos sobre Epstein.
Republicanos apontaram que a administração do presidente democrata Joe Biden também teve acesso aos documentos, mas não os tornou públicos.
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