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Produtos 'brasileiros' puxam alta da inflação nos EUA mesmo antes de tarifas entrarem em vigor

Café e cítricos - produtos que Brasil exporta em grande quantidade para os EUA e que podem ser afetados por tarifaço - estão entre itens que tiveram maior alta de preços nos últimos meses.

Preço das frutas cítricas subiu 2,3% de maio para junho de 2025 nos Estados Unidos -  (crédito: Getty Images)
Preço das frutas cítricas subiu 2,3% de maio para junho de 2025 nos Estados Unidos - (crédito: Getty Images)

A inflação nos Estados Unidos subiu no mês passado à medida que as tarifas do presidente Donald Trump começaram a fazer efeito, elevando os preços de itens como roupas e café.

Os preços para os consumidores aumentaram 2,7% no ano até junho, acima dos 2,4% registrados no mês anterior, com os números subindo em ritmo mais rápido desde fevereiro, segundo o Departamento do Trabalho.

Os principais responsáveis por esse aumento foram os custos mais altos com energia e moradia, como os aluguéis.

Mas os dados também sugerem que os consumidores estão começando a sentir o impacto das tarifas, já que algumas empresas passaram a repassar os custos dos novos impostos sobre importações determinados por Trump.

O preço do café aumentou 2,2% de maio para junho, enquanto o das frutas cítricas subiu 2,3%.

Segundo analistas, esses produtos podem sofrer mais pressões inflacionárias caso os EUA de fato apliquem tarifas de 50% sobre importações brasileiras em 1º de agosto, conforme anunciado pelo presidente Donald Trump na semana passada.

O Brasil tem grande peso nos mercados de café e cítricos nos EUA.

Dados oficiais do governo dos EUA indicam que o Brasil - maior produtor de café do mundo - fornece cerca de 30% do café vendido no mercado americano, seguido por Colôbia (20%) e Vietnã (10%).

No setor de cítricos dos EUA, o Brasil é crucial no fornecimento de suco de laranja, responsável por cerca de 60% das importações do produto no país, segundo associações do setor.

Na segunda-feira (14/7), os preços futuros do suco de laranja na Bolsa de Nova York alcançaram seu maior valor dos últimos 4 meses, em meio a temores de que as tarifas americanas reduzam a oferta do produto nos EUA.

Analistas dizem que uma redução na produção de laranja no Estado da Flórida agrava os riscos para o setor.

Já o preço dos brinquedos nos EUA subiu 1,8%, os de eletrodomésticos aumentaram 1,9%, e o das roupas teve uma alta de 0,4% — o primeiro aumento no setor em meses.

Uma mão pegando uma laranja entre várias no mercado
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Preço das frutas cítricas subiu 2,3% de maio para junho de 2025 nos Estados Unidos

Mas o aumento geral permanece contido e está, em grande parte, dentro das expectativas, compensado por quedas nos preços de carros novos e usados, passagens aéreas e reservas de hotel.

"Há um indício do que provavelmente é uma inflação induzida pelas tarifas em algumas categorias, especialmente eletrodomésticos e móveis", disse Olu Sonola, chefe de pesquisa econômica dos EUA na Fitch Ratings.

"Esse indício provavelmente ganhará força nos próximos meses."

A tarifa efetiva média nos Estados Unidos aumentou consideravelmente neste ano, após Trump impor uma taxa de 10% sobre a maioria dos produtos que entram no país, atingindo itens essenciais como aço e carros com tarifas ainda mais altas.

Embora ele tenha suspendido alguns planos mais agressivos, nas últimas semanas ele voltou a ameaçar com novas tarifas, alertando sobre planos de aumentar as taxas sobre produtos da maioria dos países a partir de 1° de agosto. Para as exportações brasileiras, Trump anunciou uma tarifa adicional de 50%.

Negociações em andamento aumentaram as esperanças de que os acordos possam evitar tarifas punitivas.

Nesta terça-feira (15/07), o presidente americano disse, sem dar detalhes, que fez um "ótimo acordo" com a Indonésia. Até agora, suas negociações tarifárias com outros países terminaram com taxas sobre produtos muito mais altas do que as que os EUA tinham no início do ano.

Grãos de café
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O preço do café aumentou 2,2% de maio para junho nos EUA

Trump alega que as tarifas vão proteger as empresas americanas da competição estrangeira, impulsionar a indústria nacional e a geração de empregos, e trazer mais receita para o governo.

A Casa Branca tem rejeitado as previsões de que as medidas vão levar ao aumento dos preços para os americanos, argumentando que as empresas e os exportadores estrangeiros é que vão absorver os custos.

Essa visão constrasta com a maioria das previsões dos economistas, que afirmam que a economia dos EUA tem sido poupada até agora porque as empresas estocaram muitos produtos com antecedência.

Apesar da pressão de Trump para reduzir as taxas de juros, o banco central dos EUA tem resistindo a fazer qualquer mudança, dizendo que precisa de mais tempo para entender os efeitos das tarifas.

Analistas disseram nesta terça-feira que não esperam cortes na reunião do Fed deste mês e estão divididos em relação a setembro, diante dos novos dados sobre a inflação.

BBC
Natalie Sherman - Repórter de Negócios da BBC News
postado em 15/07/2025 20:03 / atualizado em 15/07/2025 23:01
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