
As autoridades venezuelanas cometeram, e continuam a cometer, desaparecimentos forçados, dentro da política de repressão, acusou a ONG Anistia Internacional. No relatório intitulado Detenções sem um rastro: o crime do desaparecimento forçado na Venezuela, a ONG debruçou-se sobre os casos de 15 cidadãos que desapareceram entre as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024 e 15 de junho de 2025.
A conclusão é a de que as violações de direitos humanos representam crimes contra a humanidade. Segundo a Anistia Internacional, o regime de Nicolás Maduro tem se dedicado a um "ataque sistemático e disseminado contra a população civil".
"Mais uma vez, as autoridades venezuelanas demonstram que sua crueldade não tem limites. Desaparecimento forçado significa não saber onde está seu familiar, em que condições se encontra, ou mesmo se está vivo ou morto. É um crime que coloca em grave risco a vida e a integridade da pessoa desaparecida e submete sua família a um sofrimento constante, marcado pela incerteza, angústia e tormento diário de ser deixada sem saber o paradeiro de seu ente querido", afirmou Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional.
Callamard fez um cobrança aos governos do mundo para que tomem uma atitude em relação aos crimes perpetrados pelo regime de Maduro. "A comunidade internacional não pode normalizar ou ignorar a crise de direitos humanos na Venezuela. A escala e a gravidade dos crimes cometidos no país — em particular o desaparecimento forçado de pessoas — devem despertar a consciência mundial e impulsionar a Justiça internacional a agir. Como crime internacional, não implica apenas a responsabilidade do Estado, mas também a responsabilidade criminal dos funcionários que o cometem", advertiu.
Até a publicação do relatório, 11 das 15 vítimas de desaparecimento forçado ainda permaneciam com o paradeiro desconhecido. A organização civil venezuelana Foro Penal também documentou 46 casos de pessoas "possivelmente desaparecidas à força". "Diante da prática implacável de crimes de direito internacional, incluindo crimes contra a humanidade, e da impunidade prevalecente no país, apelamos ao Gabinete do Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) para que faça progressos firmes na situação na Venezuela e considere incluir o crime contra a humanidade de desaparecimento forçado na sua investigação", disse Callamard. Ela instou as autoridades de Caracas a colocarem fim à prática, "sem desculpas ou demora". "As famílias têm o direito de saber o destino e o paradeiro de todos aqueles que foram desaparecidos à força. Além disso, todas as pessoas detidas arbitrariamente por motivos políticos devem ser libertadas imediatamente."