
Chimpanzés em Uganda, na África, foram observados usando plantas medicinais, de várias formas, para tratar feridas abertos e outras lesões.
Em uma pesquisa que dá continuidade à descoberta feita no ano passado — de que os chimpanzés procuram e consomem plantas para se automedicar —, cientistas acompanharam e observaram os animais para entender como eles lidam com ferimentos.
Pesquisadores da Universidade de Oxford, junto com uma equipe na Reserva Florestal de Budongo, registraram e filmaram chimpanzés usando plantas como primeiros socorros, tanto neles mesmos como uns nos outros.
O estudo, que também analisou décadas de registros feitos por outros cientistas, resultou em um catálogo das diferentes formas que os chimpanzés usam "os primeiros socorros da floresta".

Segundo os pesquisadores, o estudo, publicado pelo jornal Frontiers in Ecology and Evolution (Fronteiras na Ecologia e Evolução, na tradução livre para o português), se soma a um número crescente de evidências de que os primatas, incluindo os chimpanzés, orangotangos e gorilas, usam remédios naturais de diversas formas para se manterem saudáveis na natureza.
Elodie Freymann, pesquisadora líder do estudo, explicou que existe "todo um repertório comportamental que os chimpanzés usam quando estão doentes ou machucados na selva — para se tratar e manter a higiene".
"Alguns desses comportamentos incluem o uso de plantas que podem ser encontradas aqui. Os chimpanzés aplicam essas plantas diretamente nos ferimentos ou as mastigam e, então, utilizam esse material mastigado em uma ferida aberta."
Os pesquisadores analisaram imagens de uma chimpanzé fêmea bem jovem, mastigando a planta e, em seguida, a aplicando em um machucado no corpo de sua mãe.
Eles também encontraram registros de chimpanzés cuidando das feridas de outros animais com os quais tinham algum tipo de parentesco. Isso é particularmente empolgante, segundo Freymann, "porque reforça a evidência de que chimpanzés selvagens têm capacidade de empatia".
Diário de registros da década de 90
Algumas das centenas de observações escritas que Freymann e seus colegas analisaram vieram de um diário de campo da estação de pesquisa em Budongo. O registro de evidências existe desde a década de 1990, e é um livro em que funcionários locais, pesquisadores e visitantes descrevem qualquer comportamento interessante que tenham visto enquanto observavam os chimpanzés.
Há histórias no livro de folhas sendo aplicadas em ferimentos e chimpanzés ajudando outros a remover armadilhas que ficaram presas ao corpo.
Também há alguns registros de hábitos de higiene surpreendentemente parecidos com o de seres humanos: uma anotação no livro descreve um chimpanzé usando folhas para se limpar depois de fazer cocô.
O grupo de pesquisadores já tinha identificado anteriormente algumas plantas que os chimpanzés procuravam e comiam quando estavam feridos. Esses cientistas pegaram amostras dessas plantas, as testaram em laboratório e descobriram que a maioria tinha propriedades antibacterianas.

Chimpanzés não são os únicos primatas não-humanos com aparente conhecimento sobre plantas medicinais. Um estudo recente mostrou um orangotango selvagem usando folhas mastigadas para tratar um ferimento no rosto.
Cientistas acreditam que estudar o comportamento desses primatas selvagens, e entender melhor as plantas que os chimpanzés usam quando estão doentes ou machucados, pode ajudar na busca por novos medicamentos.
À BBC News, Freymann disse que quanto mais nós aprendermos sobre o comportamento dos chimpanzés e sua inteligência, "mais nós vamos perceber o quão pouco o ser humano realmente sabe sobre a natureza".
"Se eu fosse colocada aqui nessa floresta, sem comida e remédios, eu duvido que eu seria capaz de sobreviver por muito tempo, especialmente se eu estivesse machucada ou doente."
"Mas os chimpanzés prosperam aqui porque eles sabem acessar os segredos deste lugar e encontrar tudo que eles precisam para sobreviver ao redor deles."
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