Pepe Mujica

Amigo pessoal de Mujica lamenta morte: "Simplicidade fará falta"

Jornalista argentino, e amigo pessoal do ex-presidente do Uruguai, Fabián Restivo escreveu livro sobre conversas que teve com Mujica e garante: "Ele não era um personagem"

Restivo é autor do livro 'Palavras para depois: conversas com Pepe Mujica'. A obra, lançada em 2024, é uma coletânea de dez dias de conversa entre ambos -  (crédito: Gonzalo Pardo)
Restivo é autor do livro 'Palavras para depois: conversas com Pepe Mujica'. A obra, lançada em 2024, é uma coletânea de dez dias de conversa entre ambos - (crédito: Gonzalo Pardo)

"Pepe odiava a palavra 'legado'". Quem garante é o jornalista argentino e amigo pessoal de José 'Pepe' Mujica, Fabián Restivo. Em entrevista ao Correio, o também escritor falou sobre a relação que possuía com o ex-presidente e guerrilheiro uruguaio, assim como sobre a simplicidade característica no modo de viver. Vítima de um câncer no esôfago, espalhado para o fígado, Pepe morreu nesta terça-feira (13/5). 

Dono de múltiplas experiências, especialmente na política, Mujica não gostava de enquadrar os feitos em vida como um "legado". De acordo com Restivo, o ex-guerrilheiro fazia questão de afirmar que "era apenas uma pessoa normal". "Durante muitos de nossos encontros, Pepe se mostrava irritado diante de qualquer menção minha à essa palavra. Ele sempre dizia que foi uma pessoa comum, que viveu as coisas que viveu", relembrou. 

Restivo conta que, dessas conversas, juntou materiais o suficiente para escrever um livro sobre o amigo. Lançado em 2024, a obra é uma coletânea de um bate-papo de 10 dias de duração entre os dois. Nele, são discutidas as visões de Mujica diante de temas como a vida, a militância, a política, o amor, a juventude e sua relação com a natureza. "Queira justamente falar sobre legado, e tomei uma 'comida' de xingamentos, de 30 minutos. Foi então que sugeri que sentássemos para bater um papo, com um gravador", contou o jornalista. 

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Ainda de acordo com ele, José era ao contrário do que muitos pensavam, alguém autêntico. Segundo o argentino, o colega passava muito longe de interpretar um personagem. "Ele vivia da maneira que vivia. Falava o que pensava, o que sentia. Ele não estava interpretando. Apenas fazia questão de seguir as próprias convicções", afirmou. 

Outra característica que chamava a atenção era a humildade. Fabián conta que, quando eleito, Mujica se recusou a mudar-se para o Palácio Estévez Edificio José Artigas. É lá onde os presidentes do Uruguai costumam viver. Pepe, no entanto, fazia questão de manter-se onde já morava.

"Ele falava: 'para quê vou me mudar? Já tenho a minha casa. E se eu quiser andar por aí de cueca? Não poderia fazer coisas assim", conta. "Nem os sapatos ele trocava. Teve dois pares em 20 anos, se me lembro bem. Ele não era de fazer compras, gostava mesmo de ler", argumenta, em meio a risadas. 

Empenhado em descrever a si mesmo, constantemente, como um camponês, o ex-presidente fazia questão de levar consigo valores primordiais, como o da fraternidade e o da leveza para viver a vida. "Ele dizia que não era pobre, que era apenas um camponês, e, por isso, vivia como um".

Ele sempre se colocava na condição de entender a realidade dos outros. Ele sempre pregava que era fundamental que vivêssemos muito, em questão de experiências, mas com leveza", explica. "A morta dele é uma grande tristeza, pois você perde alguém querido, com quem gosta de passar o tempo, e não está mais lá", complementou o jornalista.

postado em 14/05/2025 00:16
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