
Uma das principais preocupações do governo brasileiro com as tarifas impostas pelos Estados Unidos recai sobre o setor de alimentos. Após rodada de reuniões com o setor produtivo nesta terça-feira (15/7), o vice-presidente, Geraldo Alckmin, ressaltou a urgência de uma solução negociada.
Segundo ele, três fatores estruturais explicam por que o agronegócio está entre os mais impactados pela taxação: a perecibilidade dos produtos, os contratos fechados com antecedência e a logística que, muitas vezes, já está em curso quando as medidas entram em vigor.
“No caso do agro, temos duas situações que exigem atenção: produtos perecíveis e cargas que já foram embarcadas. Por isso, o prazo é crítico, e todos estamos empenhados em buscar alternativas rapidamente”, disse Alckmin a jornalistas.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, criticou a imposição unilateral das tarifas e defendeu o diálogo como caminho essencial para reverter a medida, sobretudo no que diz respeito aos alimentos. “O mundo enfrenta grave insegurança alimentar. Milhares de pessoas tomaram café da manhã hoje sem saber se terão o que almoçar. Alimento não pode ser tratado como commodity comum. Taxar alimentos é um erro que não condiz com uma postura humanitária”, declarou.
Fávaro também destacou os desafios logísticos que o setor enfrenta diante da rapidez na implementação das tarifas. “Não é possível, em 10 ou 15 dias, redirecionar toda a produção que já estava destinada aos Estados Unidos. O diálogo está aberto e seguirá sendo conduzido com respeito à soberania e altivez”, disse.
Impactos imediatos no setor de carnes
O setor de carnes bovinas também já sente os efeitos da medida. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que responde por cerca de 98% das exportações brasileiras de carne bovina, alertou o governo sobre a queda na produção devido à incerteza gerada pela nova taxação. Segundo o presidente da entidade, Roberto Perosa, “nossos frigoríficos estão parando a produção destinada aos EUA justamente por causa da indefinição”.
Os Estados Unidos são o segundo maior destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China. A Abiec informou que aproximadamente 30 mil toneladas, avaliadas entre US$ 150 milhões e US$ 160 milhões, já estão nos portos ou em trânsito, e a entidade manifesta preocupação sobre como esses volumes serão tratados a partir de 1º de agosto, data prevista para a vigência das tarifas.
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Perosa reforçou que a associação mantém diálogo com importadores norte-americanos e apoia as negociações do governo federal. “Estamos em constante negociação com compradores nos EUA e apoiamos o trabalho de abertura de mercados liderado pelo ministro Carlos Fávaro. Trouxemos ao governo a visão do setor produtivo, da pecuária e da indústria da carne bovina”, concluiu.
Negociações
Nos próximos dias, o governo pretende intensificar as negociações com os Estados Unidos, com o apoio de empresários, câmaras de comércio e autoridades brasileiras. Alckmin destacou que o diálogo continua aberto e a construção de uma resposta unificada está em andamento.
“Amanhã teremos reunião com a Amcham, a Câmara de Comércio Brasil–Estados Unidos, e outros segmentos que solicitaram participação, como a indústria química, cooperativas, CNA, CNC, empresas de software, companhias americanas como a John Deere, o Sindisucar e centrais sindicais”, informou o vice-presidente.