
O governo realiza hoje a primeira rodada de reuniões com empresários do setor exportador para traçar estratégia de negociação em torno da taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Segundo o o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, que fez o anúncio ontem, a reunião será dividia em dois momentos, pela manhã e à tarde, na sede do Mdic, em Brasília.
Pela manhã, às 10h, serão ouvidos representantes da indústria, em especial aviação, aço, calçados e auto-peças. À tarde, a partir das 14h, será a vez do agronegócio. Nessa reunião, serão incluídos os ministros da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca.
Segundo Alckmin, esta será apenas a etapa inicial de uma estratégia mais ampla de articulação conjunta entre o governo brasileiro e a iniciativa privada. "O presidente Lula criou um comitê de trabalho, formado pelo MDIC, Casa Civil, Ministério da Fazenda e Ministério das Relações Exteriores. A primeira tarefa é conversar com o setor privado. Vamos trabalhar juntos para reverter essa questão, que é totalmente inadequada", afirmou Alckmin.
O ministro destacou que o diálogo com o setor produtivo brasileiro não se esgotará nesta semana e que novas reuniões já estão previstas. "Chamamos as entidades e algumas empresas diretamente impactadas. Essa é a primeira conversa. Vamos dar continuidade a esse trabalho", garantiu.
Além da interlocução com os setores diretamente atingidos, o governo pretende também buscar apoio entre empresas e entidades norte-americanas, como forma de pressionar por uma revisão da medida imposta por Trump. "É evidente que as empresas americanas também serão atingidas. Vamos conversar com elas e com as entidades do comércio Brasil-EUA. Há uma integração em cadeia. Vamos agir em conjunto", explicou o ministro.
Alckmin também negou informações que circularam nos últimos dias sobre um possível pedido brasileiro de prorrogação do prazo para início das tarifas ou mesmo de negociação sobre os percentuais aplicados. "Não tem procedência. O governo não pediu nenhuma prorrogação de prazo e não fez nenhuma proposta sobre alíquota. Estamos ouvindo os setores mais envolvidos, para que o setor privado também participe e mobilize seus parceiros nos EUA. Assim como o governo fará", disse.
Ao rebater os argumentos da Casa Branca, que justificaram as tarifas com base em alegados desequilíbrios comerciais, Alckmin apontou que a balança comercial entre os dois países não sustenta a medida adotada. "Dos 10 produtos que os Estados Unidos mais exportam para o Brasil, 8 têm tarifa zero", afirmou o ministro, destacando que, em muitos casos, o regime tarifário é mais vantajoso para os americanos.
As tarifas de 50% afetam setores estratégicos da economia brasileira, incluindo exportações de aço, alumínio, carne bovina, suco de laranja, calçados e celulose. A expectativa é que as conversas desta semana ajudem a traçar uma estratégia de resposta política e comercial, com apoio tanto interno quanto internacional.
São Paulo
Os empresários também foram convidados pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para uma reunião sobre o mesmo tema. O encarregado de Negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, estará na reunião.
A aproximação ocorre após críticas ao governador por sua postura inicial de evitar comentários sobre a medida norte-americana. Diante da repercussão negativa, Tarcísio esteve com Escobar na última sexta-feira, em Brasília, para discutir os impactos da nova taxação. Após o encontro, o governador publicou nas redes sociais que o objetivo da conversa foi analisar as "consequências" da tarifa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para os setores industrial e agropecuário do Brasil.
Na mesma postagem, Tarcísio afirmou que pretende "abrir um diálogo" com empresas do Estado para "buscar soluções efetivas", e aproveitou para alfinetar o governo federal ao declarar que "narrativas não resolverão o problema".
O novo encontro entre Tarcísio e Escobar — o segundo em menos de uma semana — ocorre após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter criticado o governador na última quinta-feira, em entrevista à TV Record. Na ocasião, Lula ironizou a postura de Tarcísio, dizendo que "não adianta esconder o chapeuzinho dos EUA" diante das reações negativas à tarifa que atinge setores-chave da economia brasileira.