
A comitiva que acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na visita oficial à China considera que o Brasil traz na bagagem um saldo altamente positivo de acordos e investimentos, num momento em que as economias jogam na defensiva em função da desarrumação causada pelos tarifaços baixados pelo presidente norte-americano Donald Trump. São pelo menos R$ 27 bilhões em recursos de empresas chinesas a serem aplicado no Brasil em áreas estratégicas, como indústria automotiva, aplicativos de delivery e transporte, energia limpa, semicondutores e alimentos.
O maior objetivo da viagem foi obtido: ampliar a relação comercial com a China, considerado hoje um parceiro mais confiável do que os Estados Unidos. Lula teve uma reunião bilateral, ontem, com o presidente Xi Jinping, depois da assinatura de 20 acordos de cooperação e de outros 16 que estão sendo discutidos.
“A relação entre o Brasil e a China nunca foi tão necessária. A Comunidade de Futuro Compartilhado por um Mundo mais Justo e um Planeta Sustentável, que estabelecemos em novembro passado, é uma alternativa às rivalidades ideológicas”, disse Lula, em uma crítica velada ao governo Trump. Essa Comunidade é um novo nível de relações diplomáticas e foi desenhada depois da vinda de Xi Jinping a Brasília, em novembro de 2024.
Instabilidade
Lula enfatizou que o planeta ficou mais instável e fragmentado nos últimos meses e frisou que a saída para as crises está no multilateralismo defendido pelos dois países. “Guerras comerciais não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países”, afirmou.
Desde que Trump deu início à guerra comercial com o restante do mundo por meio de tarifaços, o Brasil vem ampliando a parceria com países da Ásia. Fechou acordos com o Japão e o Vietnã e, na China, captou R$ 6 bilhões da montadora GWM, R$ 5 bilhões da plataforma de delivery Meituan e R$ 3 bilhões da estatal CGN para a instalação de um centro de energia renovável no Piauí. Há ainda uma cooperação entre estaleiros e protocolos para aumentar a capacidade brasileira na fabricação de fármacos e equipamentos médicos. Há projeto, também, para as Rotas de Integração Sul-Americanas, que visam interligar a região com rodovias e portos. A ideia é criar um acesso para os produtos brasileiros pelo Oceano Pacífico.
Celac se beneficia
A viagem de Lula abriu a possibilidade de aumento nos investimentos entre a China e as nações que compõem a Celac — que reúne países da América Latina e do Caribe. Na cúpula que reuniu o bloco e o governo de Pequim, o presidente Xi Jinping anunciou novos aportes de US$ 9,18 bilhões (cerca de R$ 52 bilhões). Da reunião participaram, entre outros, os presidentes Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia), e a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (a instituição financeira do Brics), Dilma Rousseff. “O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão, mas a viabilidade econômica depende da capacidade de coordenação entre os nossos países, para conferir a essas iniciativas escala regional”, salientou Lula.