
A incômoda insônia pode ter uma solução mais simples, fácil e barata do que a via medicamentosa, mostram novos estudos. As alternativas passam pela ioga, pelo tai chi chuan e por caminhada e corrida, segundo os pesquisadores. Essas opções melhoram a qualidade do sono e a dificuldade para dormir, de acordo com os cientistas da Universidade de Medicina Chinesa de Pequim, na China. A conclusão está publicada no periódico on-line BMJ Evidence Based Medicine.
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Para essa análise, foram avaliados ensaios clínicos produzidos até abril de 2025, envolvendo 1.348 participantes e 13 abordagens de tratamento diferentes para aliviar a insônia, sete das quais baseadas em exercícios: ioga; tai chi chuan; caminhada ou corrida; exercícios aeróbicos combinados com exercícios de força; treinamento de força isolado; exercícios aeróbicos combinados com terapia; e exercícios aeróbicos mistos. Esses programas variaram de quatro a 26 semanas de duração.
Siane Prado, que atua como coordenadora da equipe de neurologia do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas, elogia os avanços da pesquisa, mas recomenda cautela. "A ideia de que o tratamento pode ir além dos fármacos e envolver o corpo em movimento, a respiração consciente e o equilíbrio mente-corpo é algo muito alinhado com uma medicina mais integrativa e preventiva. É fundamental observar a qualidade metodológica dos estudos, os tamanhos de efeito reais e os limites da generalização", ressaltou.
Giulliano Gardenghi, fisioterapeuta com doutorado em ciências, coordenador científico do ING e do Hospital Encore, afirmou que o estudo vai de encontro a uma série de publicações recentes que mostram a eficiência dos exercícios e das atividades de concentração e respiração na melhoria da qualidade do sono. "A gente sabe que o exercício com atividade moderada funciona, sim, na melhora do paciente", afirmou ele, complementando com treinamento em uma sala de musculação. Segundo ele, meditação e ioga também colaboram muito.
Opções
No estudo, foram consideradas as abordagens de terapia cognitiva comportamental, a higiene do sono, as sessões de acupuntura e de massagem , além de mudanças no estilo de vida, no período de seis a 26 semanas. Os cientistas ressaltam que é necessário considerar o aspecto social da pesquisa "o baixo custo, os efeitos colaterais mínimos e a alta acessibilidade — essas intervenções são adequadas para integração em programas de atenção primária e saúde comunitária".
Para a coordenadora da fisioterapia do Hospital Anchieta, Tatiana Rodrigues Cardoso, os resultados da pesquisa são bastante representativos, mas por sua larga experiência, é fundamental observar os interesses e a vida do paciente também. "Precisamos identificar os exercícios que os mesmos melhor se adaptem, para que sigam as rotinas com estes exercícios, como também criar ambientes propícios para o descanso, adotar hábitos saudáveis e evitar estímulos antes de dormir. Assim teremos um potencial terapêutico a favor da melhora da qualidade do sono."
Eduardo Waihrich, PhD, neurocirurgião vascular, head da neurocirurgia vascular na rede Kora Brasília e no hospital Sírio Libanês em Brasília, recomenda ter uma visão macro sobre o paciente. "A principal causa de insônia, sem dúvida alguma, são os comprometimentos de saúde mental, especialmente depressão e ansiedade. Tratar essas doenças de forma adequada inclui o seguimento com um bom especialista em saúde de mental, com a ponderação de associar ou não medicações psicotrópicas, apoiado por suporte psicoterápico e, impreterivelmente, mudanças no estilo de vida."
Resultados
Na pesquisa, a ioga resulta em um grande aumento no tempo total de sono, de quase duas horas, e pode melhorar a eficiência do sono em quase 15%. Também pode reduzir o tempo gasto acordado após adormecer em quase uma hora e diminuir a latência do sono em cerca de meia hora. Resultados semelhantes foram verificados com os pacientes que fizeram caminhadas e exercícios de tai chi chuan. Os cientistas observaram que a ioga pode alterar a atividade cerebral, aliviando assim a ansiedade e os sintomas depressivos que muitas vezes interferem em uma boa noite de sono, eles sugerem.
Já o tai chi enfatiza o controle da respiração e o relaxamento físico e demonstrou diminuir a atividade do sistema nervoso simpático, reduzindo a hiperexcitação. A caminhada melhora o sono ao aumentar o gasto energético, reduzindo a produção de cortisol, melhorar a regulação emocional, aumentando a secreção do hormônio do sono melatonina e aumentar a quantidade de sono profundo.
""O exercício proporciona ainda controle de várias patologias, de peso, emocional, ansiedade, qualidade de vida, dentre outros. Precisamos identificar quais atividades melhor se adaptam os pacientes e criar ambientes para o descanso, além de orientar sobre hábitos saudáveis e estímulos antes de dormir. Assim teremos um potencial terapêutico a favor", acrescentou a coordenadora da fisioterapia do Hospital Anchieta Tatiana Cardoso.
Remédios complementares
A insônia está associada a um estado de hiperalerta e aumento da atividade do sistema nervoso simpático. Práticas como ioga e tai chi chuan estimulam o sistema nervoso parassimpático, promovendo relaxamento, redução da frequência cardíaca, da pressão arterial e da atividade cerebral em áreas associadas à vigilância. É um ponto importante destacar, ainda, que esses métodos não substituem completamente outras abordagens, principalmente em casos graves de insônia ou quando há comorbidades psiquiátricas ou neurológicas que necessitam de outras intervenções, podem ser uma estratégia primária ou complementar muito valiosa — e subutilizada — no manejo clínico.
Siane Prado coordenadora da equipe de neurologia do Hospital Brasília Aguas Claras, da Rede Américas
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"Remédios" complementares
A insônia está associada a um estado de hiperalerta e aumento da atividade do sistema nervoso simpático. Práticas como ioga e tai chi chuan estimulam o sistema nervoso parassimpático, promovendo relaxamento, redução da frequência cardíaca, da pressão arterial e da atividade cerebral em áreas associadas à vigilância. É um ponto importante destacar, ainda, que esses métodos não substituem completamente outras abordagens, principalmente em casos graves de insônia ou quando há comorbidades psiquiátricas ou neurológicas que necessitam de outras intervenções, podem ser uma estratégia primária ou complementar muito valiosa — e subutilizada — no manejo clínico.
Siane Prado coordenadora da equipe de neurologia do Hospital Brasília Aguas Claras, da Rede Américas