
Asteroides que compartilham a órbita de Vênus podem atingir a Terra em alguns milhares de anos e causar a destruição de grandes cidades do planeta. É o que diz estudo liderado por pesquisadores brasileiros publicado na revista internacional Astronomy & Astrophysics em 30 de junho.
Chamados "coorbitais", 20 asteroides conhecidos por astrônomos usam do mesmo caminho e do mesmo tempo de Vênus para dar a volta ao redor do Sol. Os cientistas acreditam, porém, que, além deles, existem outros que ainda não foram identificados.
Os asteroides visíveis, de órbitas mais "alongadas" se comparadas a uma circunferência perfeita, são mais fáceis de serem observados da Terra devido ao fato de passarem mais perto dela, o que os torna mais brilhantes. Apesar disso, estudos realizados por computadores modernos confirmam grande quantidade de corpos com órbitas mais redondas "escondidos" e, portanto, ainda não descobertos que podem se tornar uma ameaça "invisível" ao planeta.
"Nosso estudo mostra que há uma população de asteroides potencialmente perigosa que não conseguimos detectar com os telescópios atuais", conta à Agência Fapesp o astrônomo Valeria Carruba, professor da Unesp e principal autor do artigo pulicado em junho. “Esses objetos orbitam o Sol, mas não fazem parte do Cinturão de Asteroides, localizado entre Marte e Júpiter. Em vez disso, estão muito mais próximos, em ressonância com Vênus. Mas são tão difíceis de observar que permanecem invisíveis, mesmo que possam apresentar um risco real de colisão com nosso planeta em um futuro distante.”
Isso porque os asteroides coorbitais alternam entre diferentes configurações de órbita em ciclos que transicionam aproximadamente a cada 12 mil anos. Assim, eles podem se cruzar e colidir com a Terra, de acordo com simulações que preveem o movimento deles ao longo de milhares de anos. “Durante essas fases de transição, os asteroides podem atingir distâncias extremamente pequenas da órbita terrestre”, reforça o astrônomo.
Segundo o estudo, até mesmo os asteroides que são visíveis atualmente podem se tornar potencialmente perigosos — ou seja, passar a menos de 0,05 unidades astronômicas (cerca de 7,5 milhões de quilômetros) da órbita terrestre — nos próximos 12 mil anos. Apesar de parecer longe, a distância é estatisticamente tão pequena que, segundo a Agência Fapesp, “corresponderia a impactos quase certos em escalas de milênios”.
Possíveis impactos gerariam crateras de 3 a 4,5 km de diâmetro e liberariam energia equivalente a até 410 megatoneladas de TNT — o que poderia destruir grandes cidades do planeta. “Um impacto em uma área densamente povoada causaria devastação em larga escala”, explica Carruba.
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Os cientistas sugerem que missões espaciais com telescópios poderiam encontrar a maioria dos asteroides coorbitais que ainda não foram detectados. Apesar disso, somente missão posicionada perto de Vênus e dedicada especialmente a isso conseguiria descobrir e mapear todos os corpos invisíveis que orbitam junto ao planeta e podem ser ameaça à Terra.
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