Bem-estar

Pesquisas concluem que dietas restritivas e jejum têm efeitos semelhantes

Análise com 99 estudos com dados de 6,5 mil adultos mostra que dietas de restrição calórica e jejum intermitente têm benefícios semelhantes, tanto para emagrecimento quanto para a melhora da saúde cardiovascular

Segundo pesquisadores, a prescrição da melhor abordagem  deve considerar a capacidade de o paciente seguir a dieta a longo prazo -  (crédito: Freepix/Divulgação )
Segundo pesquisadores, a prescrição da melhor abordagem deve considerar a capacidade de o paciente seguir a dieta a longo prazo - (crédito: Freepix/Divulgação )

Desde que famosos começaram a alardear os benefícios do jejum intermitente, muitas pessoas questionam se a estratégia pode ser mais eficaz do que a restrição de calorias. Alguns estudos clínicos tentaram resolver a questão, mas o número limitado de participantes impedia uma resposta definitiva. Agora, um artigo publicado na revista The British Medical Journal (BMJ) com dados de 6,5 mil adultos revela que se alimentar em dias alternados ou com restrição de horário proporciona os mesmos efeitos das dietas tradicionais, seja para emagrecer ou para manter a saúde cardiovascular.

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A conclusão do artigo, baseado na revisão de 99 ensaios clínicos que compararam os resultados das duas estratégias, é a de que, com orientação, jejuar ou cortar calorias trazem os mesmos benefícios, e devem ser indicados de acordo com a realidade do paciente. "O foco deve ser promover mudanças sustentáveis ao longo do tempo", escreveram os autores, liderados por John Sievenpiper, do Departamento de Ciências Nutricionais da Universidade de Toronto, no Canadá. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 2,5 bilhões de adultos — 43% da população acima dos 18 anos — estão acima do peso, enquanto 800 milhões (16%) vivem com obesidade. A perda de peso pode reduzir fatores de risco cardiometabólico, como pressão alta, colesterol e níveis de açúcar no sangue, e, consequentemente, diminuir a carga de doenças crônicas graves, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. 

Alternativa

Nos últimos anos, o jejum programado tornou-se uma alternativa popular às dietas tradicionais com restrição calórica, que muitas vezes são insustentáveis a longo prazo. Embora não exista uma definição única da abordagem, os vários métodos podem ser enquadrados em três categorias: alimentação com restrição de tempo (por exemplo, 16 horas de jejum e oito de alimentação); dias alternados (jejum de 24 horas) ou dias inteiros (como cinco dias de ingestão alimentar e dois de jejum). 

"Os efeitos do jejum intermitente na saúde, em comparação com a restrição calórica contínua, permanecem, porém, obscuros", justifica Sievenpiper. Para comparar os efeitos das abordagens, os autores estudaram dados de 6.582 pessoas com idade média de 45 anos e índice de massa corporal de 31 (obesidade grau 1). Quase 90% delas tinham problemas de saúde preexistentes. 

A análise indicou que todas as estratégias levam a reduções no peso corporal, além de beneficiarem a saúde cardiometabólica, quando comparadas a uma alimentação sem nenhuma restrição. O jejum em dias alternados mostrou um pequeno benefício no emagrecimento, em relação à restrição calórica (diferença média de 1,29kg), mas a diferença é irrelevante do ponto de vista clínico, segundo os autores. 

"As evidências atuais fornecem alguma indicação de que dietas de jejum intermitente têm benefícios semelhantes à restrição energética contínua para perda de peso e fatores de risco cardiometabólico", escreveram os autores. "Ensaios de duração mais longa são necessários para fundamentar melhor essas descobertas."

Perfil

O médico endocrinologista Diego Bandeira, especialista no tratamento de obesidade e emagrecimento, destaca que, na prática, a melhor recomendação é a orientação nutricional segundo o perfil do paciente, "de forma individualizada e que leve em consideração sua rotina e preferências alimentares". "O melhor plano alimentar continua sendo aquele que a pessoa consegue sustentar com consistência e sem sofrimento", diz. 

Bandeira destaca que o sucesso do tratamento não depende do método, mas da capacidade do paciente de segui-lo. Ele ressalta que a maioria das pessoas não consegue manter hábitos restritivos por períodos prolongados e aponta outros desafios do emagrecimento. "Nosso corpo se adapta ao processo de perda ponderal, iniciando modificações que culminam na tentativa de reganho, como a redução da capacidade de queimar calorias e aumento progressivo da fome com redução da saciedade", diz. 

Para Naveed Sattar, professor de medicina cardiometabólica da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, a pesquisa da Universidade de Toronto é mais uma prova de que "não há nada de mágico no jejum intermitente para a perda de peso". "Trata-se de outra maneira de as pessoas manterem sua ingestão total de calorias mais baixa. Portanto, torna-se outra opção de estilo de vida para o controle de peso. Vale a pena examinar se é sustentável a longo prazo", observa. 

Diego Bandeira recomenda que a escolha entre jejum e outras abordagens seja criteriosa. "Pacientes que precisam simplificar a rotina alimentar durante o dia, ou ainda aqueles que têm um hábito alimentar desorganizado e naturalmente pulam refeições por conta do cotidiano, podem se beneficiar do jejum intermitente", diz. "?Já pessoas com histórico de transtornos alimentares, crianças e adolescentes, gestantes e lactantes ou idosos mais frágeis devem evitar esse método alimentar.?"

  

Duas perguntas para 

Fabrício da Silva, cardiologista da Amplexus Saúde Especializada

O estudo mostra que o jejum em dias alternados pode melhorar níveis de colesterol e triglicerídeos. Esses efeitos são considerados relevantes para reduzir risco de infarto ou acidente vascular cerebral?

O controle do colesterol e dos triglicerídeos tem impacto direto na saúde cardiovascular. Isso porque essas gorduras são protagonistas na formação das placas de ateroma, que obstruem os vasos sanguíneos e aumentam o risco de infarto e AVC. Portanto, qualquer estratégia que ajude a controlar esses níveis pode trazer benefícios importantes para o coração. Em protocolos bem orientados, com períodos de jejum de até 14 horas, o método pode, sim, trazer benefícios metabólicos, incluindo melhora nos marcadores de risco cardiovascular.

Pacientes com doenças cardiovasculares podem fazer jejum? 

De forma geral, o jejum pode ser seguro, desde que o paciente não seja diabético. Isso porque indivíduos com doenças cardiovasculares frequentemente apresentam outras condições metabólicas associadas, como o diabetes, e nesses casos o jejum exige atenção redobrada. É necessário um acompanhamento profissional para ajustar doses de medicamentos e evitar episódios de hipoglicemia.

Alguma intervenção dietética é mais benéfica para o coração? 

Quando falamos sobre as diferenças entre abordagens dietéticas, é importante destacar que a dieta mediterrânea, por exemplo, já é bem consolidada quanto aos seus benefícios cardiovasculares. Ela contribui para o controle de fatores como os níveis de colesterol e a resistência à insulina, sendo especialmente eficaz para pacientes com pré-diabetes, o que, por si só, já reduz o risco cardiovascular. Dietas que promovem uma ingestão calórica menor e ajudam o paciente a manter um balanço energético negativo são fundamentais para prevenir e tratar a obesidade, um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. 

 

 

Fabrício da Silva, cardiologista da Amplexus Saúde Especializada

Fabrício da Silva, cardiologista da Amplexus Saúde Especializada

O estudo mostra que o jejum em dias alternados pode melhorar níveis de colesterol e triglicerídeos. Esses efeitos são considerados relevantes para reduzir risco de infarto ou acidente vascular cerebral?

O controle do colesterol e dos triglicerídeos tem impacto direto na saúde cardiovascular. Isso porque essas gorduras são protagonistas na formação das placas de ateroma, que obstruem os vasos sanguíneos e aumentam o risco de infarto e AVC. Portanto, qualquer estratégia que ajude a controlar esses níveis pode trazer benefícios importantes para o coração. Em protocolos bem orientados, com períodos de jejum de até 14 horas, o método pode, sim, trazer benefícios metabólicos, incluindo melhora nos marcadores de risco cardiovascular.

Pacientes com doenças cardiovasculares podem
fazer jejum? 

De forma geral, o jejum pode ser seguro, desde que o paciente não seja diabético. Isso porque indivíduos com doenças cardiovasculares frequentemente apresentam outras condições metabólicas associadas, como o diabetes, e nesses casos o jejum exige atenção redobrada. É necessário um acompanhamento profissional para ajustar doses de medicamentos e evitar episódios de hipoglicemia.

Alguma intervenção dietética é mais benéfica para o coração? 

Quando falamos sobre as diferenças entre abordagens dietéticas, é importante destacar que a dieta mediterrânea, por exemplo, já é bem consolidada quanto aos seus benefícios cardiovasculares. Ela contribui para o controle de fatores como os níveis de colesterol e a resistência à insulina, sendo especialmente eficaz para pacientes com pré-diabetes, o que, por si só, já reduz o risco cardiovascular. Dietas que promovem uma ingestão calórica menor e ajudam o paciente a manter um balanço energético negativo são fundamentais para prevenir e tratar a obesidade, um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. (PO)

 

postado em 15/07/2025 06:01
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