
Cientistas inovaram e utilizaram a poesia clássica chinesa para mapear, rastrear e analisar cronologicamente o declínio histórico de uma espécie ameaçada de extinção. Trata-se do boto chinês (Neophocaena asiaeorientalis), também conhecido como boto-liso-chinês. A pesquisa, publicada na revista Current Biology nesta segunda-feira (5/5), coletou e analisou 724 poemas antigos, escritos a partir da Dinastia Tang (618-907).
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Para reconstruir a distribuição histórica do golfinho, que habita as partes média e baixa do Rio Yangtze e lagos adjacentes, os sete pesquisadores coletaram e analisaram os textos que mencionavam a espécie. A China tem uma longa tradição poética e muitos poetas viajavam de barco, registrando detalhes do ambiente, incluindo a fauna aquática. Por ser grande e visível quando subia à superfície para respirar, o animal chamava a atenção dos poetas com relativa frequência.
Ao analisar os poemas, os pesquisadores identificaram a presença dos golfinhos em dinastias específicas e locais geográficos particulares. Em 362 poemas — ou seja a metade analisada, havia informações de localização específica. A Dinastia Qing (1636-1912) teve o maior número de poemas com registros.
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Com base nesses locais de ocorrência, foi possível mapear a distribuição histórica do golfinho. O resultado mostra uma redução significativa na área que ocupavam. O número de áreas (grades) com ocorrências diminuiu de 169 na Dinastia Tang para apenas 59 nos tempos modernos, implicando uma redução de pelo menos 65%.
O estudo conclui que esta é a primeira evidência baseada em literatura histórica de redução de uma espécie tão rapidamente e indica que formas de arte podem fornecer informações valiosas para rastrear as mudanças na distribuição da vida selvagem ao longo do tempo, especialmente quando os poetas retratavam os animais com precisão.